Ser rico é bem melhor
Porque ser pobre é ruim
E eu vou contar a herança
Que vovó deixou pra mim
Quando a minha vó morreu
Eu pensei que estava rico
O que ela deixou pra mim
Irei contar sem fuxico
Foi uma jumenta velha
Uma cabra e um pinico
Deixou um cachorro velho
Que já nem latia mais
Banguelo, não tinha um dente
Com o nome de Voraz
Que quando eu ia pra festa
O condenado ia atrás
REFRÃO
Deixou um enxame de abelha
Uma tal de italiana
Eu fui ver se tinha mel
Com a cara cheia de cana
As abelhas me ferraram
Eu corri quase uma semana
Deixou um rádio de móvel
Com a madeira cinzenta
Inventei de abrir ele
De barata tinha oitenta
Um rato pulou de dentro
Quase arranca minha venta
REFRÃO
Deixou uma rede velha
Uma panela furada
Um guarda roupa sem porta
Uma porca adoentada
E uma chapa sem dente
Na parede arreganhada
Deixou uma espingarda
Com o nome de soca-soca
Saí pra caçar com ela
Na mata da Pororoca
O tiro saiu por trás
E pegou na minha pitoca
REFRÃO
Deixou meio quilo de sal
E um quilo de cebola
Uma gata parideira
Que ela batizou de Chola
E uma arapuca grande
Onde ela pegava rola
Deixou um litro de vinho
Uma barra de sabão
Um saco, um chapéu de palha
E uma mão de pilão
Uma viola sem braço
Que ela tocava canção
REFRÃO
Deixou um pé de maxixe
E um pezinho de goiaba
Um bode pai de chiqueiro
Que quando bodeia baba
Um dia quis me comer
Pensando que eu era a cabra
Deixou pra mim uma tarrafa
Que ela pegava traíra
Um terreno cheio de pedra
Calumbi e macambira
Tudo que eu disse é verdade
Ninguém pense que é mentira
REFRÃO
Uma jumenta sem peito
Amarrada no quintal
Um dia eu montei nela
Ela entrou no matagal
Jogou-me lá nos espinhos
Fui parar no hospital
Agradeço a minha vó
E pra ela tiro o chapéu
Sei que ela reza por mim
De palma, capela e véu
Um dia saio dessa zorra
E também vou morar no céu
REFRÃO