É madrugada, ao primeiro cantar do galo
Já se ouve os estalos dos gravetos no galpão
É o movimento da peonada do meu pago
Preparando o mate amargo ao pé do fogo de chão
E quando aponta a luz da barra do dia
Já começa a sinfonia num coral do passaredo
É um presente da divina natureza
Mostrando toda beleza pra quem levanta mais cedo
É bem assim nas estâncias do meu paqo
O campo largo que passeia em cada olhar
Um bom cavalo, liberdade, terra boa
Deus abençoe quem nasceu pra camperear
Um cão que late, convidando para a lida
Enquanto a gata, escondida, dá-lhe um pulo no jirau
Tem um alarido de um bando de periquitos
Bem na hora em que os cabritos cambeteiam nos peraus
Lã na mangueira, a vaca fica mugindo
Parece ficar pedindo liberdade pra o terneiro
Um parelheiro come o milho, satisfeito
E um cochincho abre o peito bem no meio do terreiro
É bem assim nas estâncias do meu pago...
Dia de chuva tem gaiteiro e tem cantiga
E a saudade que castiga bem na voz do cancioneiro
Se misturando pelo eco nas campinas
Com o berro da brasina lá no fundo do potreiro
Esta é a vida da peonada nas estâncias
Só conhece a importância quem já foi peão campeiro
Raça de guapo que não tem medo do touro
E ganha a vida no lombo destes potros caborteiros